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terça-feira, 2 de março de 2021

FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA: RIOPRETANOS TIVERAM PARTICIPAÇÃO HEROICA NA 2ª GUERRA MUNDIAL!

Blog Rio Preto Noutros Tempos - por Rodrigo Magalhães*

        A Segunda Guerra Mundial foi o maior conflito da história da humanidade e contou com a participação brasileira, a partir de 1944, com o envio de aproximadamente 25 mil soldados, que lutaram na frente de batalha do norte da Itália.

O Brasil na 2ª Guerra Mundial

A participação do Brasil ocorreu após navios mercantes brasileiros terem sido afundados por submarinos alemães em 1942. A declaração de guerra contra o Eixo fez com que o Brasil mobilizasse soldados para serem enviados à frente de batalha. Em novembro de 1943, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), e soldados de diferentes partes do País foram convocados para formar um Corpo de aproximadamente 25 mil militares, comandados pelo General Mascarenhas de Moraes. Esses soldados ficaram conhecidos pelo nome de “pracinhas”.

Pela primeira vez na história, tropas da América do Sul cruzaram o Oceano Atlântico para lutar no continente europeu. No dia 16 de julho de 1944, os primeiros cinco mil soldados do 1º Escalão da FEB, desembarcaram em Nápoles, rumo à guerra. Depois de quase 15 dias cruzando o Atlântico, os militares brasileiros chegaram à Europa para lutar.

 No dia 5 de agosto de 1944, a tropa do Escalão Avançado da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) encontrava-se acampada em Tarquínia, onde recebeu armamentos e equipamentos. A partir de então, a FEB estava oficialmente incorporada às tropas aliadas na Itália.


Expedicionários riopretanos

Alguns jovens moradores do município de Rio Preto foram convocados e fizeram parte da Força Expedicionária Brasileira, participando da Segunda Guerra Mundial.

Somente do à época distrito de Santa Rita de Jacutinga, participaram da grande marcha expedicionária, entre outros: Gastão Américo dos Reis Júnior (Tenente do 1º Batalhão de Engenharia de Combate); Élson Machado, Joaquim Teodoro da Silva, José Lopes, Luiz Afonso, Oswaldo José de Almeida, Roldão Ermenio e Sebastião Rodrigues de Almeida (Artilheiros); Alfredo Marques da Cunha (mensageiro); João Farias (Grupo de Saúde) e Odim Machado (telegrafista).

Consta nos arquivos da Associação dos Ex-combatentes da FEB, na Secção de Valença/RJ (AECB-SV), os seguintes nomes de expedicionários riopretanos:

José da Silva Avelar (AECB-SV)

            JOSÉ DA SILVA AVELAR, nascido em Rio Preto/MG em 1921, filho de Durval Avelar e Georgina Maria Avelar. Alistou-se na unidade militar de Valença/RJ, aos seis de outubro de 1942. Foi à Itália e combateu na Guerra, servindo à unidade do 1º Batalhão de Saúde, da 2º Cia de Evacuação. Foi excluído em 21/08/1945;

Aristides Soares (AECB-SV)

ARISTIDES SOARES, nascido em Rio Preto/MG em 1923. Foi à Guerra com o 1º Batalhão de Saúde, pela 3ª Cia de Evacuação, como padioleiro;

Sebastião Moreira de Paiva (AECB-SV)

SEBASTIÃO MOREIRA DE PAIVA, nascido em Rio Preto/MG em 1921. Foi à Guerra pelo 11º Regimento de Infantaria, de São João Del-Rei/MG. Além do Diploma de Medalha de Campo, possuía também o Diploma de Sangue do Brasil, por ter sido ferido durante a Guerra;

Joaquim Lopes Maia (AECB-SV)

JOAQUIM LOPES MAIA, natural de Parapeúna, distrito de Valença/RJ, onde nasceu em 1920. Foi à Guerra pelo 2º Grupo, do 1º Regimento de Obuses Auto-Rebocado.

            Até o momento não obtivemos êxito em elaborar uma lista nominal de todos os moradores do município de Rio Preto que foram à guerra. Todavia, é de conhecimento geral que um dos três heróis mineiros mortos na emboscada de Montese, era riopretano, conforme amplamente divulgado pelos veículos de comunicação. Além deste, descobrimos recentemente após pesquisas realizadas na Unidade do Exército da cidade de São João Del-Rei/MG, que um dos dezessete brasileiros que perderam a vida de forma heroica em Abetaia, era morador de Rio Preto, cidade onde existe um logradouro em sua homenagem. 

Sebastião Clementino Machado (Acervo familiar)

Os 17 de Abetaia

SEBASTIÃO CLEMENTINO MACHADO nasceu na zona rural de Conservatória, distrito de Valença/RJ. Era filho de uma das últimas remanescentes do Conservatório, o derradeiro aldeamento indígena de nossa região. O pai, que ele nunca chegou a conhecer, foi um negro escravizado. Sebastião era, portanto, um cafuzo (ou carafuzo), que é resultado da união entre negro e índio.

Conta-se que com o fim do Conservatório, sua mãe não teve condições de criar sozinha a numerosa prole. Eram pelo menos seis filhos: Clementina, Alzira, Maria, Aparecida, José e Sebastião. Quase todos foram “adotados” por outras famílias, moradores da região. Sebastião Clementino, ainda bem pequeno, foi adotado pelo médico e político influente doutor Dolor Gentil Ramalho Pinto, quem o trouxe para Rio Preto/MG, onde o menino foi por ele criado. Acompanhando sempre o doutor Dolor, o adolescente Sebastião aprendeu a medicar e a desenvolver técnicas medicinais, tornando-se um prático.

Aos 18 anos, alistou-se no Exército, em Valença/RJ, e devido aos seus conhecimentos médicos foi servir no Batalhão de Saúde, sendo transferido posteriormente para o 11º Regimento de Infantaria do Exército em São João Del Rei/MG, de onde saiu no dia 22 de setembro de 1944 para lutar na Segunda Guerra Mundial.

Faleceu em combate, heroicamente, aos 12 de dezembro de 1944, em Abetaia, na Itália. Sebastião Clementino (Soldado/Pracinha, com identificação militar 2G-126252) era um dos “17 de Abetaia”, como ficaram conhecidos na história nacional esses heróis de guerra brasileiros que se sacrificaram para salvar o restante do seu Pelotão. Ele participou da patrulha que contava com apenas dezessete homens, que foi completamente aniquilada pelo inimigo a uns vinte metros da posição do mesmo.

Consta que esses dezessete homens desapareceram em ação, depois de enfrentarem cerca de sessenta militares alemães a fim de salvar o restante do Pelotão de uma emboscada. Seu corpo, junto com os demais, só foi encontrado após a conquista de Monte Castello, aos 21 de fevereiro de 1945, ainda em posição de combate, o que leva a crer que lutou até o último tiro, conforme está registrado, de acordo com a descrição de um oficial do Regimento que os encontrou:

Em formação semi-circular de combate e num campo aberto, a uma vintena de metros das seteiras, jaziam 17 cadáveres brasileiros, hirsutos, agressivos, colhidos por traiçoeira ceifa de morte, no momento em que o assalto final coroaria o cumprimento de sua difícil missão sobre Abetaia. Alguns cadáveres comprimiam o gatilho que disparara o último tiro e outros tinham nas mãos cerradas a granada, já sem grampo de segurança, que não chegara a partir e que só a rigidez cadavérica dos dedos comprimidos sobre a cauda do capacete, impedia de explodir... Estavam ali os 17 desaparecidos em ação, daquele malogrado ataque de dezembro e cujos nomes, em fim de jornada e à vacilante luz de uma vela discreta, um major, no seu P.C., examinava silenciosamente, através do laconismo militar de uma parte de combate”.

Seus restos mortais repousam no Monumento aos Pracinhas do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Em sua homenagem, um dos principais logradouros da cidade de Rio Preto foi renomeado “Pracinha Sebastião Clementino”, a popularmente conhecida Rua de Baixo.

Três heróis brasileiros

            GERALDO RODRIGUES DE SOUZA nasceu no município de Rio Preto/MG, no então distrito de Santa Bárbara do Monte Verde. Era filho de Josino Rodrigues de Souza e Maria Joana de Jesus. Com a identidade militar nº SG-88.714, Classe 1919, pertencente ao 11º Regimento de Infantaria (São João Del-Rei/MG) da Força Expedicionária Brasileira na Itália, embarcou para além-mar em 20 de setembro de 1944.

Geraldo morreria sete meses mais tarde, em circunstâncias heroicas. Ele e outros dois combatentes mineiros tornaram-se imortais em Montese, na Itália. No dia 14 de abril de 1945, o trio integrava uma patrulha com poucos soldados quando se viu frente a frente com uma forte companhia inimiga com mais de cem soldados. Esses heróis optaram por resistir até a morte, cercados por todos os lados e sem a menor chance de vitória. Repeliram com fogo os apelos do inimigo para que se rendessem.

Após dizimá-los, os soldados alemães os enterraram com honras militares, em reconhecimento à sua bravura, e grafaram o seguinte epitáfio em suas sepulturas: "Drei brasilianische helden" ("Três heróis brasileiros"). Os túmulos foram encontrados dias depois por uma patrulha da FEB, que recuperou os corpos e trasladou-os para o Cemitério de Pistóia, na Itália, e anos depois foram trazidos para o Memorial aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

        Geraldo foi agraciado com as Medalhas de Campanha e Sangue do Brasil de Combate de 2ª Classe. No decreto que lhe concedeu esta última condecoração, lê-se: “Por uma ação de feito excepcional na Campanha da Itália”.    
Tumbas dos três brasileiros na Itália

*Rodrigo Magalhães, pesquisador e historiador riopretano


2 comentários:

  1. Em 03/2018 fiz o percurso por onde os Brasileiros combateram. Foram dois dias de muitas emoções. Foi uma homenagem ao meu Sogro, que foi Ex-combatente. Fui Sargento do Exército na Arma de Infantaria. Se precisar de alguma informação tenho o telefone do Ítalo-brasileiro que cuida do Monumento em Pistoia.

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  2. A banda sueca Sabaton fez uma música chamada Smoking Snakes em homenagem aos três heróis brasileiros, geralmente executada como um dobrado pela Lima Santos https://youtu.be/1M7sUCElJK0?si=HUqwoJzf4lBWHluQ

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