Bolg Rio Preto Noutros Tempos – por Rodrigo Magalhães*
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Viscondessa do Monte Verde- pintura a óleo, datada de 1862, de autoria de Rocha Fragoso, um pintor bem-sucedido da Corte, retratista oficial do Conde D'Eu. Quadro do Acervo da Matriz de N. S. dos Passos de Rio Preto/MG. |
A
cultura do café marcou um período de prosperidade e crescimento na história do
município de Rio Preto/MG, sendo considerado como o apogeu econômico e político
da região. Surgiram nessa época os “Barões do Café” no Vale do Rio Preto, local
que, certamente, abrigou uma das maiores concentrações de aristocratas rurais
de todo o Brasil Império, onde essas designações de fidalguia aportaram no
século XIX.
Os
cinco principais títulos de nobreza formavam uma escadinha hierárquica que
obedecia à seguinte ordem, a começar do mais poderoso: duque, marquês, conde,
visconde e barão.
No
total, 1.211 títulos de nobreza foram distribuídos no país. Desse universo,
interessante observar que apenas 26 mulheres foram agraciadas pelo Império brasileiro
com o título de Viscondessa, em mais de um milheiro de homens, excluídas as
esposas dos titulares, às quais se estendia o título, por hábito de cortesia e
de nobiliarquia.
E
foi no território do município de Rio Preto que viveu uma dessas importantes
mulheres brasileiras do século XIX, onde ela possuía propriedades rurais e
casas na cidade, a qual legou uma suntuosa igreja Matriz. Ela se chamava Maria
Thereza de Souza Fortes, Viscondessa de Monte Verde - a única mulher que
recebeu tal titulação dentre todas da então província de Minas Gerais!
Biografia
Maria
Thereza de Souza Fortes nasceu no final do século XVIII (provavelmente em 1790),
no município de São João Del-Rei, filha de membros de abastadas famílias
mineiras. “Sou nascida e baptizada na
Freguesia de Nossa Senhora do Pilar de São João-Del-Rei”, declarou em seu
testamento.
A
mãe, Ana Teresa de Mello Almeida Souza Menezes, era portuguesa, da freguesia
dos Anjos da cidade de Lisboa, filha do Comendador Luiz de Souza Brandão
Menezes e D. Felipa Antonia Mello de Noronha Almeida, da freguesia da
Encarnação da cidade de Lisboa.
O
pai, doutor Luís Fortes de Bustamante, foi o primeiro Guarda-mor de Rio Preto,
em 1798. Coube a ele a importante função de distribuir as pioneiras “Datas e Sesmarias” em território
riopretano. Mas em fevereiro de 1800 foi promovido, e a Guardamoria da então
povoação do Presídio do Rio Preto passou a ser ocupada por seu irmão, Francisco
Dionísio Fortes de Bustamante.
Em
1803, doutor Luís Fortes já ocupava o cargo máximo de Capitão-mor da província
de Minas Gerais, em São João Del-Rei, sendo a autoridade responsável pela provisão
de cargos e ofícios, por exemplo, para o posto de Alferes e Cabo das Esquadras,
bem como pela execução de leis. E, em 1805, expediu-se um Decreto do príncipe
regente D. João “fazendo mercê a Luís
Fortes de Bustamante e Sá da serventia vitalícia do ofício de escrivão da
Ouvidoria da comarca de Santa Catarina e Rio Grande de Porto Alegre”.
Acredita-se que o povoado de Rio Preto passou a ser chamado nessa época de
Arraial do Ouvidor, justamente em referência a esse que foi o primeiro
Guarda-mor da localidade. Alguns documentos do início dos oitocentos
referiam-se ao local como “Arraial do
Ouvidor, Termo de Barbacena, Comarca do Rio das Mortes”.
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Comendador Thereziano Fortes (s.d.) Acervo da Matriz de N. S. dos Passos de Rio Preto/MG |
Comendador
Thereziano
Como
era muito comum na época, Maria Thereza se casou com o seu primo Francisco
Thereziano Fortes, filho de Francisco Dionísio Fortes de Bustamante, irmão de
seu pai. Supõe-se que ele já residia desde 1815 na imponente casa sede da Fazenda
Santa Clara, fundada por seu pai nos primeiros anos do século XIX, em Rio
Preto, onde essa rica família construiu um verdadeiro império.
Seu
sogro e tio Francisco Dionísio é considerado uma das colunas-mestras em que se
assentou a fundação da cidade de Rio Preto. Pode-se dizer que ele foi a maior
autoridade do então Arraial, logo após a abertura do então Sertão Proibido à
exploração e povoamento. Como o maior proprietário de terras da região, as
atividades de suas fazendas movimentavam os seus negócios, trazendo-lhe muita
riqueza e, ao mesmo tempo, impulsionavam o desenvolvimento da povoação, onde
era uma espécie de chefe de polícia e militar, sendo que era o Guarda-mor local
e comandante do Quartel do Registro. Com o tempo, tornou-se também o Procurador
dos Índios Coroados e o Provedor das Capelas de toda a região do Vale do Rio
Preto.
Francisco
Dionísio faleceu em 1820. Como filho primogênito, Thereziano herdou a principal
fazenda - Santa Clara, onde passou a residir em companhia da esposa Maria
Thereza. Thereziano também era revestido de poder por patente concedida, pois “era Capitão do Corpo de Ordenanças da Vila
do Têrmo de São João Del Rei, no Pirapetinga do Rio Preto”, e ocupou cargos
de destaque na comunidade riopretana. Enriqueceu com mineração no rio Preto e
seus afluentes, com herança recebida de parentes abastados e, sobretudo, com o
café.
Benfeitor
inconteste, ele doou à povoação do Presídio do Rio Preto terrenos, dinheiro
para a construção de prédios e mão de obra escrava para outras obras,
contribuindo sobremaneira com o progresso da localidade em que residia.
Conta-se que a construção da Matriz fora ideia sua, e que para tanto doou 300
arrobas de café que, após vendidas, deu início às obras com o dinheiro
arrecadado, em 1835. Além disso, foi ele quem principiou a edificação do
suntuoso prédio onde funcionaria a primeira “Casa de Câmara e Cadeia” da Vila
do Rio Preto.
Já
ostentando o título de Comendador desde 1842, por sua participação saliente na
Revolução Liberal, tornou-se a principal personagem de Rio Preto, o Arraial que
ele muito contribuiu para ser elevado à cidade, em 1844, tendo sido o seu
primeiro intendente municipal (prefeito).
Thereziano
faleceu repentinamente Comendador, antes de ser agraciado Barão ou até mesmo
Visconde, em 1854, durante uma viagem à sua terra natal, São João Del-Rei, onde
foi sepultado. E, assim, não se cumpriu o seu desejo deixado em testamento de
ser sepultado em Rio Preto: “(...) se
morrer nesta Fazenda (Santa Clara), quero ser enterrado no cemitério da mesma
onde já tenho o lugar marcado, sendo meu corpo envolto no habito de Sam
Francisco de Paula”.
Os
gêmeos
Consta
no Livro de Tombo nº 01 da Parochia da Matriz de N. S. dos Passos de Rio Preto,
que o Rev. Padre Manoel Mendes Lopes, “a
3/3/1834 batiza: Francisco e Antônio, gêmeos, filhos do capitão Francisco
Thereziano Fortes e de D. Maria Thereza de Souza Fortes. Foram padrinhos do
primeiro: João Pedro Medeiros e sua mulher, D. Joanna Hedovirges de Medeiros,
por procuração que apresentou Carlos Theodoro de Souza. Do segundo, foram
padrinhos Carlos Theodoro e sua mulher, D. Izabel Henriqueta Fortes.”
Entretanto,
menos de dois anos após serem batizados, aos oito de janeiro de 1836, os gêmeos
Francisco e Antônio faleceram, com tenra idade (“ainda inocentes”), e as causas
das mortes são desconhecidas. É o que consta no Livro de Óbitos de Rio Preto
(1833-1848). Depois dessa tragédia familiar, Maria Thereza nunca mais teve
outros filhos.
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Matriz de N. S. dos Passos de Rio Preto/MG Acervo do Museu Regional de Rio Preto |
Matriz
Senhor dos Passos
Com
a morte precoce do Comendador Thereziano, em 1854, a viúva dona Maria Thereza necessitava
de auxílio para administrar os mais diversos negócios da Fazenda Santa Clara,
especialmente aqueles relacionados ao café. Por essa razão, algum tempo depois
apareceu em Rio Preto o doutor Gabriel Ploesquellec de Bustamante, seu sobrinho
e afilhado que acabava de chegar da Europa, trazendo da Universidade de Coimbra
o diploma de Bacharel em Direito. Assumiu logo a direção dos negócios da Santa
Clara, inclusive a administração das obras da Matriz Senhor dos Passos, na vila
do Rio Preto, onde residia na “Casa da Cidade” da sua tia.
Foi
assim que ocorreu a execução do ambicioso projeto de seu finado marido, quando
então a viúva Maria Theresa continuou as obras da majestosa igreja, doando mais
dinheiro e várias arrobas de café. Foi ela quem contratou José Maria Vilaronga
Y Panella, arquiteto catalão (natural da Catalunha, província espanhola) recém-chegado
da Europa, para dar prosseguimento às obras da nova Matriz, que foi inaugurada em
meio a grandes festividades, no dia 26 de setembro de 1860.
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Casa de Câmara e Cadeia da Vila do Rio Preto/MG Acervo do Museu Regional de Rio Preto |
Os
escravos
Dona
Maria Thereza certamente presenciou muitos escravos sendo castigados e
torturados ao longo dos anos vividos na Fazenda Santa Clara. Afinal, nos porões
situados logo abaixo de um dos salões da casa sede, onde os proprietários
faziam as suas principais refeições, situava-se o temível calabouço, uma
espécie de prisão com diversos instrumentos de torturas, com capacidade de
abrigar até duzentos cativos. Isso porque algumas citações estimam que as
senzalas da Santa Clara abrigaram mais de dois mil escravizados.
Por
outro lado, conta-se que dona Maria Theresa, logo após a inauguração da Matriz,
mandou alforriar todos os escravos que trabalharam na construção e ordenou que
soltassem todos os animais que prestaram serviço, e ainda teria dado, nos
limites da Fazenda Santa Clara, nas paragens do Boqueirão e do Taboão, diversos
pedaços de terra a estes escravos.
Sendo
verdade essa parte da história preservada pela tradição oral, podemos constatar
que dona Maria Thereza soube reconhecer todo o sacrifício e o esforço
sobre-humanos desempenhados por seus escravos durante os 25 anos de intenso
trabalho a fim de edificarem, à custa de seu suor, esse gigantesco templo que
até os dias atuais é reconhecido como uma das maiores e mais belas igrejas de
toda a região.
Mais
do que isso, há outros documentos que sugerem que a Viscondessa do Monte Verde
dispensava um tratamento benevolente para com alguns de seus escravizados.
Nesse sentido, corrobora o que consta em seu testamento, em que a mesma declara
que “(...) estando em estado de saúde e
perfeito juízo, (...) em disposição de dever e de última vontade (...) deixo liberto os meos escravos...”,
descrevendo nominalmente 14 cativos de sua propriedade, aos quais ainda deixou
a “gratificação de cem mil reis a cada um”,
junto com a carta de alforria.
Por
fim, o fato de a Viscondessa do Monte Verde ter escolhido para escrever o seu
testamento o padre João de Souza Godinho também demonstra que a mesma, de fato,
não levara em conta a cor da pele da pessoa na qual confiou redigir o documento
mais importante de sua vida, uma vez que o referido reverendo de Rio Preto era
negro, caso raro no Brasil Império.
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"Palacete da Baronesa" (principal da Casa da Cidade de D. Maria Thereza). Doada pelo Barão de Santa Clara para funcionar como o primeiro hospital local. Santa Casa de Misericórdia de Rio Preto/MG |
O
caso Manoel Pereira
Manoel
da Silva Pereira Júnior era português. Chegou a Rio Preto em 1832, aos 17 anos
de idade. Empregou-se nas fazendas da família Fortes, onde aprendeu com os
antigos escravos mestres de ofício as profissões de marceneiro, ferreiro,
pedreiro e maquinista. Dotado de uma inteligência superior, rapidamente
tornou-se o administrador da Fazenda Santa Clara.
Em
1842, casou-se com Maria Ignácia e, ainda pobre, se mudou para as terras de seu
sogro, vizinha da Fazenda Santa Clara. Com muito trabalho, conseguiu comprar as
terras a seu sogro, fundou a Fazenda Pirapetinga e em poucos anos se tornou um
dos maiores fazendeiros da região. Tornou-se uma figura de destaque em Rio
Preto, onde fundou o Partido Liberal junto com os seus patrícios que, em meados
do século XIX, já dominavam a lavoura e o comércio na cidade.
Em
1850 o candidato liberal apoiado por Manoel Pereira foi o mais votado nas
eleições municipais e, no ano seguinte, assumiu a presidência da Câmara e a
Intendência (prefeito) – o major Luiz José de Souza e Silva, fato que
desagradou sobremaneira a toda família Fortes, principal liderança do partido
Conservador em Rio Preto, onde desde 1844 dominavam sem adversários a política
local.
Pereira
era um visionário e, visando o progresso e o desenvolvimento da região,
projetou uma estrada margeando o ribeirão Pirapetinga, sempre em linha reta, a
fim de encurtar a distância entre Bom Jardim de Minas e o Rio de Janeiro. Após
autorização dos governos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, iniciou os
trabalhos. Mas, já no segundo dia foi covardemente agredido e ameaçado de
morte. Membros da abastada família Fortes, seus antigos patrões (agora seus
adversários políticos), não concordaram com a construção da estrada do Manoel
Pereira, opondo-se de todas as maneiras possíveis ao projeto e impedindo que
esse caminho passasse por suas terras. Para esse fim, usaram de vários
expedientes criminosos, como afundar uma barca utilizada por Manoel Pereira nos
trabalhos e até mesmo derrubar uma ponte que já estava pronta e em uso.
Essa
acirrada disputa entre Fortistas e Pereiristas arrastou-se por longos anos e
foi parar nos principais jornais do país. E como Manoel Pereira vencera na
opinião publica, sendo que a maior parte da população regional era favorável a
sua estrada, bem como nas instâncias judicias e políticas, o principal auxiliar
da viúva dona Maria Thereza – doutor Gabriel, que à época era o Juiz Municipal da
comarca de Rio Preto, mandou escravos e capatazes de Santa Clara matar o
português liberal, em 20 de maio de 1863, após praticarem uma série de
castigos, mutilando vários membros do corpo do português.
Não
satisfeitos, os executores amarraram os seus braços e as suas pernas em uma
pesada pedra e atiraram o seu corpo no meio do rio Preto. Poucos dias após o
sumiço de Manoel Pereira, um viajante viu aflorando das águas do rio, que
baixara subitamente, as mãos de uma pessoa. Eram as mãos de Manoel Pereira –
“implorando justiça”, dizia o povo! – que se soltaram da corrente.
O
processo e julgamento do caso Manoel Pereira foi rumoroso, noticiado e
acompanhado por toda a imprensa da Corte. Doutor Gabriel, apontado como o principal
mandante do crime, fugiu da Fazenda Santa Clara, a qual a população local
ameaçava invadir para vingar a morte do altruísta Manoel Pereira. Do Rio de
Janeiro, embarcou para Angola, de onde nunca mais retornou.
Foram
presos os escravos e capatazes da Fazenda Santa Clara, executores do bárbaro
crime, e coube à dona Maria Thereza pagar pela defesa dos mesmos. Para tanto
gastou uma formidável fortuna ao contratar o renomado advogado, jornalista e
político, doutor Saldanha Marinho. Além disso, a reputação de sua família se
viu extremamente prejudicada na região, também devido à prisão de seu primo e
cunhado, o todo poderoso desembargador doutor Antônio Joaquim Fortes de
Bustamante, também acusado de ser mandante do assassinato de Manoel Pereira,
muito embora o mesmo tenha sido absolvido posteriormente.
Por
ordem direta do imperador D. Pedro II, a cidade de Rio Preto foi rebaixada a
distrito novamente, devido à repercussão negativa ocasionada pelo cruel
assassinato do empresário português. Desde então, a viúva dona Maria Thereza
passou a viver em companhia do seu irmão, o Comendador Carlos Theodoro de Souza
Fortes.
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Primeira residência da Viscondessa do Monte Verde na cidade. Doada pelo Barão de Santa Clara ao médico Dr. Affonso Portugal. Acervo do Museu Regional de Rio Preto. |
Títulos
nobiliárquicos
Em
reconhecimento a uma notória contribuição pública, devido à magnificência da
Matriz construída com seu próprio dinheiro, aliado à posição de destaque
política e econômica de Rio Preto no cenário nacional àquele período, por meio
do Decreto Imperial datado de cinco de fevereiro de 1861, Maria Thereza de Souza
Fortes foi agraciada com o título nobiliárquico de Baronesa do Monte Verde.
Acreditamos
que o nome por ela escolhido faz referência ao Sítio Monte Verde, de sua
propriedade, um lugar aprazível de onde se avista a formidável cachoeira que se
forma nas proximidades da foz do ribeirão Pirapetinga no rio Preto, em
território mineiro, situado a poucos quilômetros da sede da Fazenda Santa
Clara.
Seis anos depois, também por Decreto do
Imperador D. Pedro II, datado de dezessete de abril de 1867, a baronesa foi
elevada na hierarquia dos nobres brasileiros. Assim, tornou-se a única mulher a
merecer a titulação de Viscondessa em toda a província de Minas Gerais, e uma
das 26 mulheres agraciadas pelo Império Brasileiro, de acordo com pesquisas
realizadas nesse sentido pelo experiente historiador e escritor valenciano,
Rogério da Silva Tjader.
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Testamento da Viscondessa do Monte Verde. Arquivo Morto da Comarca de Rio Preto/MG. |
O
testamento
Pelo
seu testamento, vê-se que a Viscondessa do Monte Verde era uma pessoa
extremamente rica. Além de possuir muitas centenas de escravizados e a Fazenda
Santa Clara, cuja sede ainda hoje é considerada uma das maiores edificações do
país, e chegou a ter mais de seis mil metros quadrados de área construída, ela
ainda possuía: o Sítio Monte Verde, o Sítio João Baptista, o Sítio Pirapetinga,
o Sítio Lamabri, quatro moradas de casas no Arraial de Rio Preto e duas
chácaras na Corte do Rio de Janeiro, em Catumby e Pedregulho, entre outros
bens, conforme se vê do referido documento.
Como
disposição de última vontade, pelo fato de não ter deixados filhos, a
Viscondessa legou o seu patrimônio a diversos parentes de Rio Preto, São João
Del-Rei e Rio de Janeiro. Mas certamente o maior beneficiado de todos foi o seu
irmão Carlos Theodoro de Souza Fortes, nomeado por ela o seu primeiro
testamenteiro, “por sua lealdade e
companhia que prestou-me desde tenra idade”, que entre outros bens herdou a
grandiloquente Fazenda Santa Clara.
Ele
também foi um grande benfeitor da cidade de Rio Preto, onde exerceu a vereança.
Foi o Comendador Carlos Theodoro que em 1880 doou o chamado “Palacete da
Baronesa”, imóvel que na época era a sua principal casa da cidade, para a Santa
Casa de Misericórdia local, entidade sem fins lucrativos que ele ajudou a criar
e da qual foi o seu primeiro Provedor (em funcionamento no mesmo imóvel, até os
dias atuais, como o principal hospital da cidade). Assim, por Decreto Imperial
de 10/06/1882, recebeu de D. Pedro II a comenda da Ordem da Rosa e o título de
Barão de Santa Clara.
Pelo
mencionado testamento, vê-se também que a Viscondessa do Monte Verde, embora
domiciliada em Rio Preto, pertencia a grandes irmandades religiosas do Brasil,
como a Ordem do Carmo, na província de Pernambuco, a Irmandade do Santíssimo
Sacramento e a Ordem de São Francisco, de São João Del-Rei e, por fim, a
Irmandade do Senhor Bom Jesus do Matozinhos, de Congonhas do Campo.
Diz-se
que toda vez que viajava, retornava para a Vila de Rio Preto em grande estilo e
luxuoso aparato, comparável aos da Corte, sempre acompanhada de mucamas,
pajens, belos animais e ricas liteiras.
Ela
faleceu na Fazenda Santa Clara, no dia seis de maio de 1868, e foi sepultada à
frente do altar-mor da Matriz Nosso Senhor dos Passos de Rio Preto, onde há uma
lápide informando que “Aqui jaz a
fundadora dessa Matriz”!
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Lápide situada no altar-mor da Matriz de N. S. dos Passos de Rio Preto. |
*Rodrigo
Magalhães é pesquisador e historiador riopretano!