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segunda-feira, 2 de novembro de 2020

IGREJA DO ROSÁRIO: VERDADEIRA JOIA HISTÓRICA E ARQUITETÔNICA DE RIO PRETO!

 Blog Rio Preto Noutros Tempos – por Rodrigo Magalhães*


A Igreja do Rosário de Rio Preto é uma verdadeira joia histórica e arquitetônica do Brasil colonial, que conta com quase dois séculos e meio de existência. Com certeza é o principal símbolo da história colonial dessa cidade do interior de Minas Gerais. Visitar a Igreja do Rosário e conhecer a sua história é como voltar no tempo e mergulhar na época do Brasil Colônia!

Não se sabe quando a construção foi iniciada, nem mesmo a data em que a obra foi concluída. É certo, porém, que se trata de uma construção do final do século XVIII, conforme informa o Dossiê do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Praça Barão de Santa Clara e Rua Dr. Esperidião, elaborado pelo Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural de Rio Preto, em 2002.

Nesse sentido, atesta um documento datado do final dos anos setecentos que, confeccionado por alguns moradores da incipiente Arraial, dirigiam-se ao responsável pelo Curato de Barbacena, ao qual pertencia a povoação do Presídio do Rio Preto àquela época, reiterando os pedidos anteriormente encaminhados no sentido de se enviar um padre para a localidade, sendo que a Igreja (do Rosário) já estava concluída há muitos anos.

Além disso, o fato de sua frente ser voltada para a Estrada Velha (atual rua Viscondessa do Monte Verde), porta de entrada da cidade durante o século XVIII, corroborado por alguns documentos obtidos que apontam batizados ocorridos na Igreja do Rosário nos primeiros anos oitocentistas, sugere essa antiguidade. Consta também a realização de missas e outras celebrações desde as primeiras décadas oitocentistas na Capela-mor dessa igreja, sendo que um padre chamado Antônio Vicente de Almada já era morador de Rio Preto nessa época, conforme declarou em seu pedido de sesmaria datado de 1811.

O nome da igreja foi escolhido em homenagem a Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e de São Benedito, que eram os santos de grande devoção dos escravos, como era comum nas Minas Gerais setecentistas. Por isso, a igreja do Rosário foi construída para esses negros (excluídos) cristãos, que no tempo colonial eram proibidos de frequentar a igreja dos homens brancos (capela do Senhor dos Passos, no Morro dos Beatos, chamada de Matriz Velha). As paredes são de taipa com quase um metro de espessura e os altares de madeira.

Alguns autores atrelam erroneamente a construção da Igreja do Rosário à data de chegada do primeiro capelão ao Arraial de Rio Preto: meados de 1821. Ele se chamava frei Henrique D’Anunciação Got e trazia licença do vigário da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Ibitipoca, padre Agostinho Vidal Pinheiro. Frei Henrique, na verdade, fundou a Irmandade do Rosário nessa época, que foi a primeira Associação Eclesiástica de Rio Preto.

Por meio das esmolas dos fieis arrecadadas pela Irmandade e, principalmente, devido à coadjuvação dos irmãos Tenente-Coronel Manoel Gomes de Oliveira Lima e Capitão José Gomes de Oliveira Lima[1], abastados mineradores e fazendeiros locais, a Igreja do Rosário foi reformada e melhorada para servir de “Matriz” à Paróquia, criada em 1832.



[1] Almanak Laemert, 1860.






Parte da história nacional

A Igreja do Rosário entrou para a história de Minas Gerais e do Brasil durante a Revolução Liberal de 1842, da qual Rio Preto tomou parte saliente. Na guarnição militar que compunha o Quartel do Presídio do Rio Preto, anexo ao Registro, foi-se formando o Ponto do Rio Preto, uma espécie de Acampamento Militar composto por mais de 1000 praças e oficiais de Cavalaria e Infantaria da Guarda Nacional, de várias Legiões, Grupos e Companhias das Províncias de Minas Gerais e também do Rio de Janeiro.

E foi nessa igreja que se montou um quartel-general, onde os comandantes das tropas – como Honório Hermeto Carneiro Leão (Marquês do Paraná), Luiz Alves de Lima e Silva (futuro Duque de Caxias) e seu irmão, o coronel José Joaquim de Lima e Silva Sobrinho (Visconde de Tocantins) – permaneceram até a arrancada para a batalha final de Santa Luzia.

Assim, no dia 16 de setembro de 1842, no vitorioso retorno depois de debelada a Revolução Liberal, o Comandante Geral das Tropas, Duque de Caxias, mais uma vez se reuniu com os seus comandados em Rio Preto. Ele novamente fez da singela Igreja Nossa Senhora do Rosário, seu quartel-general, e nela assistiram a um Te Deum (hino cristão).


Personagens

Devido a toda essa antiguidade e à importância histórica dessa Igreja, alguns membros das famílias mais abastadas da época escolheram serem sepultados em seu interior. Essa foi a vontade registrada em testamento pelo potentado proprietário da Fazenda São José, renomado militar (Tenente-Coronel da Guarda Nacional) e nobre brasileiro, José Gomes de Oliveira Lima – o Barão de São José, que foi “sepultado no dia 18 de julho de 1872 dentro da Capela de Nossa Senhora do Rosário[2].

Esse também foi o desejo de Maria Roza do Espírito do Santo, a Baronesa de São José. Ela faleceu na Fazenda São José, em 1875, e está enterrada dentro da Igreja do Rosário, templo que ela e o marido muito contribuíram para restaurar com recursos próprios, atribuindo-lhe a aparência atual[3].

Por fim, encontra-se sepultado à direita do portal principal de acesso a Igreja do Rosário o padre José Ignácio de Souza Bittencourt, outro personagem riopretano de destaque. Logo após se ordenar padre em Mariana/MG, retornou para a sua cidade natal, onde ocupou o lugar de Cônego. Foi nomeado Vigário Forâneo, Delegado Paroquial e Consultor Diocesano. Era chefe político dos “Jagunços” e foi presidente da Câmara dos Vereadores (prefeito) de Rio Preto por dois mandatos[4].

Padre Zé, como era carinhosamente conhecido na cidade, reorganizou a Irmandade do Rosário, em 1913, dirigindo-a como “Juiz Mor”. Ele celebrava as suas missas na Igreja do Rosário, onde foi sepultado aos 20 de março de 1935[5]. Logo na entrada da igreja existe uma grande pedra de mármore branco em meio às tábuas corridas do piso do bicentenário templo, onde se lê: “Aqui jazem os restos mortaes do Conego Jose Ignacio de Souza Bittencourt...”

* Rodrigo Magalhães, pesquisador e historiador riopretano



[1] Almanak Laemert, 1860.

[2] Arquivo Morto da comarca de Rio Preto/MG.

[3] Idem.

[4] Primeiro Livro do Tombo da Paróquia de Nosso Senhor dos Passos de Rio Preto.

[5] Idem.

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