Blog Rio Preto Noutros Tempos - por Rodrigo Magalhães*
Davi Moretzsohn
Campista nasceu no Rio de Janeiro, então capital do Império, no dia 22 de
janeiro de 1863. Após viver parte da infância em Juiz de Fora/MG, concluiu os
cursos primário e secundário no internato do Colégio Pedro II e no Colégio
Aquino, no Rio de Janeiro/RJ. Mudou-se para São Paulo/SP, onde se formou em
ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1884. Após
graduar-se, veio advogar em Rio Preto/MG, provavelmente em razão de suas
ligações familiares com Juiz de Fora.
Em
Rio Preto
Fixou
residência e escritório de advocacia na Rua Direita (atual Rua Dr. Esperidião),
o principal logradouro da cidade de Rio Preto. Casou-se com Jovita Maia, filha
de tradicional família da região, com quem teve três filhas e um filho, ao qual
deu o nome de Rui em homenagem a Rui Barbosa.
Acredita-se
que por interferência de algumas lideranças políticas e econômicas de Juiz de
Fora, entre as quais se incluía seu tio Luís Eugênio Horta Barbosa, Davi
Campista foi nomeado Promotor Público, o primeiro da comarca de Rio Preto.
Nesses
primeiros anos em que residiu em Rio Preto se dedicou ainda com afinco à música
e à pintura. Ele é o autor de uma bela pintura que denominou de “Lázaro Ressuscitado”, com o qual
presenteou o médico e político doutor Affonso Portugal, outra figura importante
de Rio Preto à época e seu amigo próximo na cidade.
Doutor Davi Campista era também uma pessoa
politizada. Republicano convicto desde os tempos da faculdade, por solicitação
dos responsáveis pelo movimento em Minas, ele acabou fundando o “Clube Republicano” na cidade, onde se
tornou uma respeitada liderança política e acabou sendo nomeado Agente
Executivo (Prefeito) do município de Rio Preto.
Foi
transferido para São Paulo de Muriaé (atual Muriaé/MG), em razão de seu
republicanismo radical. Mas em pouco tempo se exonerou do cargo, e em 1888
retornou para Rio Preto, onde permaneceu com a propaganda republicana na
pequena cidade onde iniciara a sua trajetória política.
Homem
muito culto e ligado às artes, o erudito doutor Davi Campista fundou a primeira
tipografia da cidade - “TYPOGRAPHIA D’O
RIO PRETO”, e com ela criou também o pioneiro jornal – “Jornal Rio Preto”.
No
Congresso Nacional Republicano ocorrido em Juiz de Fora no ano de 1889, Davi
Campista foi indicado pelos pares candidato à Assembleia Provincial, eleição
que não chegou a realizar-se em razão da proclamação da República, em 15 de
novembro.
Mas
em 1891, foi indicado por Cesário Alvim, então presidente de Minas (Governador),
presidente do Conselho da Intendência de Rio Preto (Prefeito), que exercia as
funções de Câmara Municipal, onde rapidamente se destacou, consolidando-se como
um administrador à frente de seu tempo. Ele foi o autor do primeiro Estatuto da
Câmara e da legislação tributária do município, que mereceu posteriormente elogios
do subsequente presidente da província de Minas Gerais, Francisco Salles, que
afirmou ser “o melhor e mais completo
estatuto municipal já elaborado”, razão pela qual serviu de modelo para
diversos outros municípios mineiros.
Demonstrando
preocupação com a preservação do patrimônio histórico, rearranjou o antigo paredão
de pedras do centro da cidade e, na saúde pública, teve atuação decisiva na fundação
da Santa Casa de Misericórdia local, onde foi provedor. Por todos esses feitos,
recebeu uma carta de felicitações do então governante provisório de Minas
Gerais, João Pinheiro, com a exclamação: “_ Ah!
Se tudo andasse como em Rio Preto...”
No
cenário político nacional e internacional
A
sua exímia administração em Rio Preto – que a tradição oral designa de “Era Davi Campista” - foi precocemente interrompida
em 1891, quando se elegeu deputado estadual constituinte na legenda do Partido
Republicano Mineiro (PRM). Rapidamente também ganhou notoriedade na Assembleia,
onde se tornou membro da Comissão de Justiça, chegando a ocupar a
Vice-Presidência e a Presidência da mesma. Conta-se que Afonso Pena, ouvindo-o,
certo dia, postou-se a seu lado para melhor aplaudi-lo e, desde então,
tornou-se um admirador e amigo de doutor Davi Campista.
Quando
no ano seguinte Afonso Pena assumiu a presidência da província mineira, convidou
Davi Campista para ser seu Secretário de Agricultura e Obras Públicas, função
que desempenhou por aproximadamente dois anos. À frente de tão importante
pasta, foi responsável pela organização da comissão construtora da nova capital
mineira – Belo Horizonte.
A
seguir, foi designado representante do governo de Minas na Itália (falava
italiano fluentemente), ao longo do governo de Bias Fortes, com o fim de
supervisionar o serviço de imigração, tão fundamental no período de transição
para o trabalho livre no Brasil. Nesse posto, baseado em Gênova, conseguiu introduzir
50 mil italianos em Minas Gerais. No governo de Silviano Brandão assumiu
novamente o posto de Secretário de Estado, desta vez na Secretaria de Finanças.
Em
1903, tendo Rio Preto e Juiz de Fora como principais redutos eleitorais, foi
eleito Deputado Federal por Minas Gerais na legenda do PRM. Ao lado de jovens
parlamentares, como Gastão da Cunha, enfrentou experientes adversários, como os
ilustres Barbosa Lima e Miguel Calmon, que os taxavam de inexperientes, ao que
Davi Campista assim respondeu: “_ Para a
honra de Minas, peço que cessem os argumentos da inexperiência. Todos somos
igualmente representantes de Minas. Não considero a madureza da idade como
presunção da madureza do juízo”.
Em
1906, tornou-se Ministro da Fazenda no governo do então Presidente da República
Afonso Pena. Ao longo de sua gestão, as finanças públicas estiveram em equilíbrio,
o câmbio em estabilidade e as despesas governamentais foram reduzidas. Destacando-se
tanto, ao se aproximar a sucessão presidencial, seu nome apareceu como uma das
alternativas possíveis, mas não chegou a disputar a eleição, sendo que a
elite
política mineira o considerava uma liderança por demais autônoma em relação ao
PRM.
Davi
Campista foi ainda um dos fundadores da Faculdade de Direito de Ouro Preto,
onde exerceu o magistério. Publicou na Itália o livro Lo stato di Minas Gerais
e, no Brasil, o livro Consolidação das leis fiscais, além de ter escrito vários
artigos para jornais de circulação nacional. Em algumas ocasiões usou o
pseudônimo Cifra.
Em
1910, foi nomeado pelo Presidente da República, Nilo Peçanha, como Embaixador
do Brasil na Noruega e na Dinamarca. No ano seguinte foi indicado para ocupar a
Embaixada Brasileira em Paris, cargo que não chegou a tomar posse, uma vez que
Davi Campista veio a falecer em Copenhague, no dia 12 de outubro de 1911,
vítima de tuberculose.
Entre
as diversas homenagens póstumas concedidas a esse ilustre personagem da
história nacional, receberam o nome Davi Campista logradouros nas cidades do
Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, Escolas Estaduais em Minas Gerais e até
mesmo uma colônia estrangeira. Em Rio Preto, onde ele iniciou a sua carreira
profissional e sua brilhante trajetória política, um dos cartões postais mais
icônicos do centro da cidade foi denominado de “Paredão Davi Campista”, em sua
homenagem!
FONTES:
·
Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil (CPDOC);
·
Ministério da Fazenda;
·
Arquivo Público Mineiro;
· LAMANNA, Rita Maria Souza Lima Leal. Rio Preto, nossa história. Valença: PC Duboc, 2006.
*Rodrigo Magalhães é
pesquisador e historiador riopretano


Espetacular,seu artigo! Rio Preto nos sendo apresentado de forma clara e objetiva.
ResponderExcluirE grande foi minha surpresa, o nome da esposa, Jovita Maia. Mais um conteúdo para nossa pesquisa da família Maia.
Parabéns! Obrigada por tão valiosa contribuição ao nosso conhecimento sobre Rio Preto e região.