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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

DAVI CAMPISTA: EXPOENTE REPUBLICANO QUE INICIOU A SUA TRAJETÓRIA POLÍTICA EM RIO PRETO

 Blog Rio Preto Noutros Tempos - por Rodrigo Magalhães*

Davi Moretzsohn Campista nasceu no Rio de Janeiro, então capital do Império, no dia 22 de janeiro de 1863. Após viver parte da infância em Juiz de Fora/MG, concluiu os cursos primário e secundário no internato do Colégio Pedro II e no Colégio Aquino, no Rio de Janeiro/RJ. Mudou-se para São Paulo/SP, onde se formou em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1884. Após graduar-se, veio advogar em Rio Preto/MG, provavelmente em razão de suas ligações familiares com Juiz de Fora.

Em Rio Preto

Fixou residência e escritório de advocacia na Rua Direita (atual Rua Dr. Esperidião), o principal logradouro da cidade de Rio Preto. Casou-se com Jovita Maia, filha de tradicional família da região, com quem teve três filhas e um filho, ao qual deu o nome de Rui em homenagem a Rui Barbosa.

Acredita-se que por interferência de algumas lideranças políticas e econômicas de Juiz de Fora, entre as quais se incluía seu tio Luís Eugênio Horta Barbosa, Davi Campista foi nomeado Promotor Público, o primeiro da comarca de Rio Preto.

Nesses primeiros anos em que residiu em Rio Preto se dedicou ainda com afinco à música e à pintura. Ele é o autor de uma bela pintura que denominou de “Lázaro Ressuscitado”, com o qual presenteou o médico e político doutor Affonso Portugal, outra figura importante de Rio Preto à época e seu amigo próximo na cidade.

 Doutor Davi Campista era também uma pessoa politizada. Republicano convicto desde os tempos da faculdade, por solicitação dos responsáveis pelo movimento em Minas, ele acabou fundando o “Clube Republicano” na cidade, onde se tornou uma respeitada liderança política e acabou sendo nomeado Agente Executivo (Prefeito) do município de Rio Preto.

Foi transferido para São Paulo de Muriaé (atual Muriaé/MG), em razão de seu republicanismo radical. Mas em pouco tempo se exonerou do cargo, e em 1888 retornou para Rio Preto, onde permaneceu com a propaganda republicana na pequena cidade onde iniciara a sua trajetória política.

Homem muito culto e ligado às artes, o erudito doutor Davi Campista fundou a primeira tipografia da cidade - “TYPOGRAPHIA D’O RIO PRETO”, e com ela criou também o pioneiro jornal – “Jornal Rio Preto”.

No Congresso Nacional Republicano ocorrido em Juiz de Fora no ano de 1889, Davi Campista foi indicado pelos pares candidato à Assembleia Provincial, eleição que não chegou a realizar-se em razão da proclamação da República, em 15 de novembro.

Mas em 1891, foi indicado por Cesário Alvim, então presidente de Minas (Governador), presidente do Conselho da Intendência de Rio Preto (Prefeito), que exercia as funções de Câmara Municipal, onde rapidamente se destacou, consolidando-se como um administrador à frente de seu tempo. Ele foi o autor do primeiro Estatuto da Câmara e da legislação tributária do município, que mereceu posteriormente elogios do subsequente presidente da província de Minas Gerais, Francisco Salles, que afirmou ser “o melhor e mais completo estatuto municipal já elaborado”, razão pela qual serviu de modelo para diversos outros municípios mineiros.

Demonstrando preocupação com a preservação do patrimônio histórico, rearranjou o antigo paredão de pedras do centro da cidade e, na saúde pública, teve atuação decisiva na fundação da Santa Casa de Misericórdia local, onde foi provedor. Por todos esses feitos, recebeu uma carta de felicitações do então governante provisório de Minas Gerais, João Pinheiro, com a exclamação: “_ Ah! Se tudo andasse como em Rio Preto...

No cenário político nacional e internacional

A sua exímia administração em Rio Preto – que a tradição oral designa de “Era Davi Campista” - foi precocemente interrompida em 1891, quando se elegeu deputado estadual constituinte na legenda do Partido Republicano Mineiro (PRM). Rapidamente também ganhou notoriedade na Assembleia, onde se tornou membro da Comissão de Justiça, chegando a ocupar a Vice-Presidência e a Presidência da mesma. Conta-se que Afonso Pena, ouvindo-o, certo dia, postou-se a seu lado para melhor aplaudi-lo e, desde então, tornou-se um admirador e amigo de doutor Davi Campista.

Quando no ano seguinte Afonso Pena assumiu a presidência da província mineira, convidou Davi Campista para ser seu Secretário de Agricultura e Obras Públicas, função que desempenhou por aproximadamente dois anos. À frente de tão importante pasta, foi responsável pela organização da comissão construtora da nova capital mineira – Belo Horizonte.

A seguir, foi designado representante do governo de Minas na Itália (falava italiano fluentemente), ao longo do governo de Bias Fortes, com o fim de supervisionar o serviço de imigração, tão fundamental no período de transição para o trabalho livre no Brasil. Nesse posto, baseado em Gênova, conseguiu introduzir 50 mil italianos em Minas Gerais. No governo de Silviano Brandão assumiu novamente o posto de Secretário de Estado, desta vez na Secretaria de Finanças.

Em 1903, tendo Rio Preto e Juiz de Fora como principais redutos eleitorais, foi eleito Deputado Federal por Minas Gerais na legenda do PRM. Ao lado de jovens parlamentares, como Gastão da Cunha, enfrentou experientes adversários, como os ilustres Barbosa Lima e Miguel Calmon, que os taxavam de inexperientes, ao que Davi Campista assim respondeu: “_ Para a honra de Minas, peço que cessem os argumentos da inexperiência. Todos somos igualmente representantes de Minas. Não considero a madureza da idade como presunção da madureza do juízo”.

Em 1906, tornou-se Ministro da Fazenda no governo do então Presidente da República Afonso Pena. Ao longo de sua gestão, as finanças públicas estiveram em equilíbrio, o câmbio em estabilidade e as despesas governamentais foram reduzidas. Destacando-se tanto, ao se aproximar a sucessão presidencial, seu nome apareceu como uma das alternativas possíveis, mas não chegou a disputar a eleição, sendo que a elite política mineira o considerava uma liderança por demais autônoma em relação ao PRM.

Davi Campista foi ainda um dos fundadores da Faculdade de Direito de Ouro Preto, onde exerceu o magistério. Publicou na Itália o livro Lo stato di Minas Gerais e, no Brasil, o livro Consolidação das leis fiscais, além de ter escrito vários artigos para jornais de circulação nacional. Em algumas ocasiões usou o pseudônimo Cifra.

Em 1910, foi nomeado pelo Presidente da República, Nilo Peçanha, como Embaixador do Brasil na Noruega e na Dinamarca. No ano seguinte foi indicado para ocupar a Embaixada Brasileira em Paris, cargo que não chegou a tomar posse, uma vez que Davi Campista veio a falecer em Copenhague, no dia 12 de outubro de 1911, vítima de tuberculose.

Entre as diversas homenagens póstumas concedidas a esse ilustre personagem da história nacional, receberam o nome Davi Campista logradouros nas cidades do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, Escolas Estaduais em Minas Gerais e até mesmo uma colônia estrangeira. Em Rio Preto, onde ele iniciou a sua carreira profissional e sua brilhante trajetória política, um dos cartões postais mais icônicos do centro da cidade foi denominado de “Paredão Davi Campista”, em sua homenagem!

FONTES:

·         Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC);

·         Ministério da Fazenda;

·         Arquivo Público Mineiro;

·         LAMANNA, Rita Maria Souza Lima Leal. Rio Preto, nossa história. Valença: PC Duboc, 2006. 

*Rodrigo Magalhães é pesquisador e historiador riopretano

Um comentário:

  1. Espetacular,seu artigo! Rio Preto nos sendo apresentado de forma clara e objetiva.
    E grande foi minha surpresa, o nome da esposa, Jovita Maia. Mais um conteúdo para nossa pesquisa da família Maia.
    Parabéns! Obrigada por tão valiosa contribuição ao nosso conhecimento sobre Rio Preto e região.

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