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sábado, 24 de outubro de 2020

ALÍPIO DE MIRANDA RIBEIRO: ILUSTRE PERSONAGEM NACIONAL NASCIDO EM SOLO RIOPRETANO!

 Rio Preto Noutros Tempos - por Rodrigo Magalhães*



Alípio de Miranda Ribeiro nasceu em 21 de fevereiro de 1874 na cidade de Rio Preto/MG, onde residiam os seus pais, Teotônio Victor Sayão de Miranda Ribeiro e Josephina Mascarenhas de Miranda Ribeiro. Eles eram professores primários e proprietários da escola que se chamava "COLLEGIO ATHENÊO MINEIRO" que, em 1876, contava com 40 alunos e já funcionava também como "pensão interna" para as filhas dos abastados fazendeiros do Vale do Rio Preto!

Eles foram os responsáveis pela iniciação nas letras do filho Alípio que, já nessa época, dava demonstrações de suas aptidões e inclinação à zoologia. Desde a mais tenra infância em Rio Preto, Alípio colecionava nos arredores do colégio de seus pais e mantinha nos porões e parque dessa casa um pequeno jardim zoológico. E o mais impressionante: com idade de apenas 14 anos traduziu para o português (e, havendo para tal fim estudado sem mestres o francês) a obra do naturalista, matemático e escritor francês, conde de Buffon, existente na Biblioteca Pública de Valença, copiando-lhes as estampas a aquarela.

Todo esse interesse por História Natural despertado desde jovem na cidade de Rio Preto, fez com que Alípio se mudasse logo a seguir para o Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, onde se matriculou na Faculdade de Medicina, não tendo chegado a concluir o curso. Em 1894, com apenas 20 anos ingressou no Museu Nacional, com a função de preparador interino da 1ª Secção. Em 1897 foi nomeado naturalista-auxiliar, vindo a exercer os cargos de Secretário (1899), professor e chefe da Divisão de Zoologia (1929).




Ao longo da carreira profissional, ele produziu mais de 150 obras sobre vertebrados e invertebrados da fauna brasileira. Participou da primeira expedição da Comissão Rondon (1908-1910) e foi o criador do primeiro serviço oceanográfico da América do Sul, a Inspetoria de Pesca, em 1911. Quando da famosa visita do físico Albert Einstein ao Brasil (07/05/1925), Alípio de Miranda Ribeiro fora o escolhido para se posicionar ao seu lado para o registro fotográfico oficial, na entrada principal do Museu Nacional, onde trabalhou por longos anos. Por esse motivo no acervo do Museu, na "Seção de Memória e Arquivo", que contava com variados fundos sobre expoentes da fundação das ciências no Brasil, um dos homenageados era justamente esse ilustre riopretano, que é considerado um dos mais importantes zoólogos do primeiro quartel do século passado.

Ele faleceu no Rio de Janeiro, em 8 de janeiro de 1839. Na cidade de Rio Preto, sua terra natal, um dos principais logradouros é denominado de Rua Alípio de Miranda Ribeiro.




* Rodrigo Magalhães, pesquisador e historiador riopretano!



quarta-feira, 21 de outubro de 2020

CASA DE PEDRA – CONHEÇA A HISTÓRIA DA EDIFICAÇÃO MAIS ANTIGA DO VALE DO RIO PRETO!

 Blog Rio Preto Noutros Tempos - por Rodrigo Magalhães*

Situado a poucos quilômetros do centro da cidade de Rio Preto/MG, encontra-se um verdadeiro tesouro arqueológico, que possivelmente conta com mais de 300 anos de existência. 

Trata-se de uma edificação feita toda com pedras, em ruínas, que é popularmente conhecida por “Casa de Pedra”. Acredita-se que ela tenha sido construída pelos bandeirantes paulistas, ainda no século XVII, conforme sugerem as investigações iniciais.

Devido ao seu grande valor histórico e interesse coletivo, a Casa de Pedra foi inventariada e tombada recentemente pelo município de Rio Preto, por meio do Conselho de Patrimônio Histórico, visando a preservação daquele sítio arqueológico, ou seja, das ruínas e do entorno. E dando sequência ao procedimento, com o objetivo de requerer o seu tombamento pelo Estado de Minas Gerais junto ao IEPHA - Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico, atualmente o Conselho de Patrimônio local está celebrando contrato com arqueólogo habilitado para o fim de se realizar o estudo técnico necessário para o referido tombamento. 


Descrição histórica e arquitetônica

A Casa de Pedra é provavelmente a edificação mais antiga de todo o Vale do Rio Preto. Estudos preliminares atestam que essas ruínas têm características de construção típica do final do século XVII e início do século XVIII. Portanto, representa os primórdios da região do Vale do Rio Preto e, de certo, é fato marcante do início da formação da história e identidade cultural do povo mineiro.

Situada nas proximidades de Santo Antônio das Varejas, na zona rural do município de Rio Preto, possui uma estrutura monumental, grande e feita de pedra e alvenaria, seguindo um modelo básico que se manteve ao longo dos séculos para esses fortins, de planta quadrangular. Os vestígios remanescentes constituem uma área construída de cerca de 50 m² (9,00 m x 5,55 m); as paredes possuem espessura de 0,80 m; a altura interna varia entre 3,70 e 3,90 m e, na área externa, notam-se paredes com mais de 4,00 m de altura. Possui duas grandes janelas frontais se parecem com duas baterias de artilharia, pois apresentam um afunilamento nas laterais (de dentro para fora); são grandes aberturas verticais, utilizadas na arquitetura militar como vão de observação, vigia e tiro. Esse detalhe arquitetônico sugere que essas janelas foram construídas para receber artilharia leve, mas também pequenos canhões, dispostos para guarnecer o portão de entrada, permitindo aos defensores, assim, maior visibilidade e dando-lhes mais proteção.

Acredita-se que foi construída originalmente pelos bandeirantes paulistas para servir de abrigo, uma espécie de fortaleza com a intenção de auxiliá-los nas expedições e protegê-los contra os constantes ataques indígenas e de animais. Por isso, tecnicamente, do ponto de vista da arquitetura militar essas ruínas podem ser consideradas como “Casas Fortes”.

 A seguir, como a Casa de Pedra situa-se estrategicamente em um terreno elevado, defronte as antigas trilhas bandeirantes que, com o passar dos anos, transformaram-se em movimentadas rotas de contrabando do ouro - “Passagem do Rio Preto”, por ser o caminho mais curto pelo qual os viajantes, militares e contrabandistas desciam da região mineradora em direção aos portos do Rio de Janeiro, por essa razão a Coroa portuguesa, em 1755, estabeleceu ali uma “Base Militar” a fim de coibir o contrabando.

Consta ainda que, provavelmente, de acordo com um documento datado de 1804, cujo teor confirma que existiu uma Casa da Moeda Falsa muito antiga em Rio Preto (já existia antes de 1780 - sec. XVIII), que foram as atuais ruínas da Casa de Pedra que abrigaram essa fábrica clandestina de fundção de ouro. Com o título - “INFORMAÇÃO DE SERVIÇO QUE FAZ O INTENDENTE DA VILA DE SÃO JOÃO DEL-REY AO GOVERNADOR, sobre a devassa feita no distrito do Rio Preto, em um sítio onde se encontrou moedas falsas muito antigas, sendo estas recolhidas à Tesouraria Geral” – o registro é um lastro documental (fonte fidedigna) que insere o município de Rio Preto definitivamente no contexto histórico do ciclo do ouro no Brasil!

Por fim, há registros no sentido de que na Casa de Pedra, posteriormente, tenha funcionado um “Presídio”, quando passou a ser chamada de “Presídio do Alto da Serra da Pedra”, que foi comandado primeiramente por um Oficial de Milícias, José da Silva Brandão (1804), e depois pelo comandante da Guarda do Presídio e capitão do “Arraial do Rio Preto”, Miguel Rodrigues da Costa.

*Rodrigo Magalhães – pesquisador e historiador riopretano.





Fotos: Rodrigo Magalhães (2017).

* Rodrigo Magalhães, pesquisador e historiador riopretano.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

IDAS E VINDAS NA CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO DE RIO PRETO: POLÔNIA MINEIRA E BÉLGICA DAS MONTANHAS DO BRASIL!

Rio Preto Noutros Tempos - por Rodrigo Magalhães*

Casa de Câmara e Cadeia de Rio Preto/MG, edificação concluída em 1856. Segundo o Almanak Laemert, em 1860 foi considerada uma das mais sólidas construções do gênero na província mineira. Atualmente o imóvel (descaracterizado, infelizmente) abriga a escola estadual local (EEDMA). FOTO: Arquivo do Museu Regional de Rio Preto/MG.

Idas e Vindas

"... o fato é que o Município - talvez caso único no Brasil - foi criado três vezes e três vezes foi suprimido, só prevalecendo até hoje a quarta criação... Sofredora Polônia mineira e destroçada Bélgica das Montanhas do Brasil!" - escreveu certa vez o saudoso doutor Henrique Furtado Portugal, o riopretano que foi membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.  

De maneira geral, pode-se afirmar que em meados do século 19 o procedimento para se criar uma cidade era complexo e demorado. Na hierarquia religioso-político-administrativa da época, Curato, Paróquia, Vila, Município, Cidade e a sua Instalação eram as etapas do processo, via de regra. Rio Preto se tornou Curato em 1821, Paróquia em 1832 e foi elevado à Vila em 1844, quando foi criado o Município. Mas nos anos subsequentes, município e vila foram suprimidos três vezes, e portanto criados novamente em outras três oportunidades... Uma situação especial, que dificulta ainda mais entender a formação administrativa da cidade e a sua História. 

Em resumo, até 1844, quando o município de Rio Preto foi criado, o seu território pertencia a Barbacena. Em 1846, o município foi anexado à Aiuruoca. Em 1854, foi incorporado à Barbacena novamente. Finalmente, em 1864 a sede do município foi transferida para Andrelândia, para ser restaurado em 1870 e elevado à cidade no ano seguinte, no dia 21 de setembro.

1844 - primeira criação

Aos 15 de julho de 1844 (Lei Provincial nº 271), a província de Minas Gerais elevou à Vila o então Arraial do Senhor do Bom Jesus do Rio Preto, um distrito de Barbacena. Fincou-se um Pelourinho no Paredão, defronte uma moradia onde passou a funcionar de maneira provisória a Casa de Câmara e Cadeia, presidida pelo Comendador Francisco Thereziano Fortes, proprietário da Fazenda Santa Clara. Estava, assim, criada a Vila de Nosso Senhor dos Passos do Rio Preto, tendo por sede do município a povoação chamada de Presídio do Rio Preto. Logo, o Comendador Thereziano foi o primeiro "prefeito" do município de Rio Preto.

Assinatura de Francisco Thereziano Fortes
(Arquivo Particular: Rodrigo Magalhães)

1850 - segunda criação

Porém, apenas dois anos depois, como ainda não havia um prédio doado ao patrimônio público a fim de abrigar a Câmara e a Cadeia, o município foi suprimido (Lei nº 285, de 12/05/1846) e anexado ao de Aiuruoca, sendo restaurado somente aos 31 de maio de 1850 (Lei nº 472), tendo como distritos Conceição de Ibitipoca, Rio do Peixe (Lima Duarte), São José do Rio Preto (São José das Três Ilhas) e Santa Rita de Jacutinga. O presidente da Câmara eleito foi o Major Luiz José de Souza e Silva, proprietário da Fazenda São Jorge.





Assinatura de Luiz José de Sousa e Silva
(Arquivo Particular: Rodrigo Magalhães)

1857 - terceira criação

Todavia, em 27 de abril de 1854, o município novamente foi extinto (Lei nº 655), pelo mesmo motivo da punição anterior, sendo incorporado desta vez à Barbacena. Somente três anos depois, com a conclusão das obras do imponente Paço Municipal, iniciada pelo Comendador Thereziano e terminada pelo comerciante português Mathias José Coelho, o município voltou a existir (Lei nº 835, de 11 de julho de 1857), tendo como distritos Bom Jardim, Santa Rita e Santa Bárbara do Monte Verde. O presidente da Câmara e administrador do município eleito foi o Capitão Thomé Dias dos Santos Brandão, proprietário da Fazenda São Bento.



Assinatura de Thomé Dias dos Santos Brandão
(Arquivo Particular: Rodrigo Magalhães)

1870 - quarta e definitiva criação do município

Incrivelmente, sete anos depois, devido ao brutal assassinato do empresário e líder Liberal local, o português Manoel Pereira, a vila perdeu pela terceira vez o status de município (Lei nº 1.119, de 27 de abril de 1864), passando a pertencer ao Turvo (Andrelândia), para ser restaurado aos 13 de setembro de 1870. 

A instalação oficial e definitiva do município ocorreu em sessão solene realizada aos 22 de julho de 1871, no Paço Municipal de Rio Preto, presidida por Antônio Belfort Ribeiro Arantes, que era o presidente atual da Câmara, sediada no Turvo, que ainda tinha como vereadores: Cândido Alves Coutinho, Mariana Pereira da Silva Gomes, Manoel Dias dos Santos Brandão, João Batista Gonçalves da Costa Pires, Francisco Vieira Valente, João Evangelista de Souza Franco, Ildefonso Antônio Duque e Antônio Faustino da Silva Pinto. Conforme determinava a legislação da época, foi realizada uma eleição (indireta) entre os vereadores presentes, quando foi eleito presidente da Câmara de Rio Preto o Capitão Cândido Alves Coutinho, proprietário da Fazenda São Cristóvão.  

Finalmente, no dia 21 de setembro de 1871, pela Lei nº 1.781, a Vila de Rio Preto foi elevada à cidade. Faziam parte do município os seguintes distritos: Dores do Rio do Peixe (Lima Duarte), Santo Antônio de Olaria (Olaria), Santa Rita de Jacutinga e Santa Bárbara do Monte Verde. 

            Desta forma, aos 11 de outubro de 1872, aconteceu a primeira eleição geral do município, depois que a cidade de Rio Preto havia sido oficialmente instalada. Conforme consta da Ata de Apuração desta eleição, um precioso documento encontrado recentemente com o nome de todos os cidadãos que foram votados na ocasião, bem como o número de votos de cada um deles, e de acordo com as informações do Almanak Laemert de 1873, o primeiro presidente da Câmara (prefeito) eleito após a definitiva instalação do município de Rio Preto foi o fazendeiro e militar Cândido Alves Coutinho (avô do conhecido Coronel Coutinho).



Ata de Apuração - Eleição de 1872
(Arquivo Particular: Rodrigo Magalhães)

"ATA DA APURAÇÃO DOS VOTOS DA ELEIÇÃO PARA VEREADORES DA CÂMRA MUNICIPAL DE RIO PRETO – 11 DE OUTUBRO DE 1872, PARA SERVIR NO QUADRIÊNIO DE 1873 A 1877.

VEREADORES ELEITOS (nove mais bem votados):

1º) Capitão CÂNDIDO ALVES COUTINHO – 724 votos

2º) Doutor AFFONSO ANTÔNIO DE PORTUGAL – 681 votos

3º) Major JOÃO ANTÔNIO DA SILVA PINTO – 602 votos

4º) Tenente FRANCISCO THEODORO DA CUNHA – 548 votos

5º) Alferes JOSÉ AGOSTINHO GOMES CARNEIRO – 528 votos

6º) Tenente JOÃO EVANGELISTA DE SOUZA FRANCO – 498 votos

7º) Doutor IGNÁCIO DE LOYOLA GOMES DA SILVA – 497 votos

8º) Padre JOÃO DE SOUZA GODINHO – 479 votos

9º) MANOEL DIAS DOS SANTOS BRANDÃO – 470 votos"

Assina a Ata o presidente à época, Capitão Cândido Alves Coutinho, que pelo voto ganhou o direito de permanecer no cargo, além de outros vereadores.

Assinatura de Cândido Alves Coutinho
(Arquivo Particular: Rodrigo Magalhães)


 *Rodrigo Magalhães, pesquisador e historiador riopretano.


DAS LITEIRAS DO IMPÉRIO AOS PRIMEIROS AUTOMÓVEIS: BREVE HISTÓRICO DOS VEÍCULOS EM RIO PRETO

  Blog Rio Preto Noutros Tempos, por Rodrigo Magalhães *   “ Naqueles tempos felizes em que os veículos a motor ainda não circulavam com...