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quarta-feira, 8 de março de 2023

BARONESA DE SÃO JOSÉ: UMA MULHER DE HÁBITOS SIMPLES E PROFUNDAMENTE CARIDOSA!

 Blog Rio Preto Noutros Tempos, por Rodrigo Magalhães*

 

 
Baronesa de São José -
Acervo da Santa Casa de Misericórdia de Rio Preto/MG.

De origem humilde, Maria Roza se casou com o potentado Barão de São José, em 1827. Tornou-se, assim, dona de uma das maiores fortunas de Rio Preto/MG. Mas ao contrário das demais nobres daquele período, destacou-se como benemérita e caridosa ao investir a maior parte deste dinheiro em filantropia e assistencialismo. 

Hoje lembraremos a extraordinária trajetória de vida desta mulher que dedicou grande parte da sua vida a auxiliar os pobres, os doentes, os deficientes e os marginalizados de Rio Preto durante o século XIX, mas cuja história é pouco conhecida até mesmo pelos moradores cidade, onde não existe qualquer logradouro, praça ou mesmo entidade filantrópica que a homenageie com o seu nome. Triste desmemória!  

   ***

Maria Roza do Espírito do Santo nasceu no final do século XVIII, em Santa Rita Durão, um antigo distrito pertencente à Mariana/MG, situado próximo da Serra do Caraça, que naquela época se chamava Infeccionado. Ela foi batizada no dia 25 de março de 1799 na suntuosa Matriz de Nossa Senhora de Nazareth do Infeccionado¹, que recebeu a benção inaugural em 28 de maio de 1729 e existe até hoje, sendo um dos principais cartões portais daquela região.


Matriz de Nossa Senhora de Nazareth do Infeccionado -
Portal IPHAN

Maria Roza era filha de Clemência Maria dos Santos, uma humilde lavadeira local. Conta-se que era uma jovem extremamente religiosa e bondosa. Foram esses atributos que possivelmente chamaram a atenção do jovem José Gomes de Oliveira Lima, o futuro Barão de São José. Ele também era natural do Infeccionado, onde nasceu em 1793. Ainda jovem, Maria Roza foi “exposta em casa de Dona Clemência Maria dos Santos”², ou seja, foi Clemência Maria quem concedeu autorização para que ela se casasse com o futuro Barão. O matrimônio aconteceu no dia quatro de outubro de 1827, na Capela de Santa Anna do Piracicaba, na Freguesia de Nossa Senhora de Nazareth do Infeccionado, no município de Mariana. 

O casal se mudou logo a seguir para Rio Preto, na época um próspero distrito de Barbacena, onde foi encontrado ouro em grande quantidade no final do século XIX, local onde já haviam se estabelecido os pais e alguns tios de José. Seguindo a vocação de seus ascendentes, José rapidamente se enriqueceu com os trabalhos de mineração no leito do rio Preto e de seus afluentes, adquirindo extensas propriedades rurais na região. Além de fazendeiro, tornou-se Tenente-Coronel da Guarda Nacional e comerciante. 


Barão de São José -
Acervo da Santa Casa de Misericórdia de Rio Preto/MG.



A seguir, edificou um suntuoso sobrado na Rua Direita da então Vila, onde no térreo funcionava um movimentado armazém de Secos e Molhados, bem como hospedaria para os viajantes, rancho para as tropas e cocheira para os animais, bem nas proximidades do Registro do Rio Preto. Era por ali que passava as Estradas Reais do Commercio e da Polícia, duas importantes vias de abastecimento que ligava a região de São João Del-Rei à Corte no Rio de Janeiro. Mas a principal moradia do casal era na majestosa casa sede da Fazenda São José, que existe até os dias atuais e é considerada uma das mais belas edificações de época do município de Rio Preto.


Fazenda São José, no livro Descoberto da Mantiqueira - 
Foto de Igor Alecsander.


O casal José e Maria Roza não teve filhos, e após a morte do cônjuge varão, já Barão, em 1872, ela se tornou a proprietária da maior fortuna do município de Rio Preto. Mas ao contrário das demais nobres daquele período, que desfilavam pelas ruas da cidade em suas pomposas liteiras e ladeadas por mucamas, a Baronesa de São José se destacou como benemérita e caridosa ao investir a maior parte deste dinheiro em filantropia e assistencialismo.


Inventário da Baronesa de São José - 
Arquivo Morto da Comarca de Rio Preto/MG.


Sua vida foi marcada por ações de caridade em prol dos mais necessitados. Em seu testamento, Maria Roza legou a vultosa quantia de 20 contos de réis, uma verdadeira fortuna, para que se construísse na cidade de Rio Preto uma “casa de caridade, tendo começo dentro do prazo de dois anos da sua morte”. Esse tipo de casa assistencial passou a criada no Brasil ao longo do século 19 e se chamava Santa Casa. Visava acolher e alimentar os presos, os pobres, curar os doentes, asilar os órfãos, sustentar viúvas, enfim, era fundada para ser a casa á serviço dos mais carentes, sem assistência e abandonados. Todo esse dinheiro deixado por ela foi destinado para a fundação da Irmandade de Santa Isabel da Santa Casa de Misericórdia de Rio Preto, em 1886, realizando-se assim o desejo testamentário da Baronesa de São José, a maior benemérita do nosso Hospital (onde existe um quadro seu na galeria de beneméritos).   

Além de deixar 200 mil réis para cada um dos seus afilhados de batismo (que eram muitos, e na maioria crianças pobres), em seu testamento ela ainda contemplou todos os enfermos, os deficientes, os escravos libertos, os órfãos e os pobres da cidade, doando muitos alqueires de terras acima do atual bairro Cavaco, para todos aqueles que comprovassem uma dessa condição. Deixou também 200 mil réis para cada uma das Irmandades Religiosas de Rio Preto: dos Passos, das Dores e do Rosário.


Igreja do Rosário, no livro Descoberto da Mantiqueira - 
Foto de Igor Alecsander.


Ela faleceu na Fazenda São José, em 1875, e foi sepultada dentro da Igreja do Rosário, uma edificação simples e sem majestade (se comparada à suntuosa Matriz de Nosso Senhor dos Passos), ao lado do jazigo de seu finado marido, no templo que eles restauraram e ampliaram com recursos próprios, atribuindo-lhe a aparência atual, por volta de 1860³.


*Rodrigo Magalhães, pesquisador e historiador riopretano!


1) Descendentes de José Gomes de Oliveira Lima e Maria Victoria do Nascimento (www.arvore.net.br).

2) CALDAS, Maria José da Costa. O clã dos Costa. Volta Redonda: Gazetilha, 1987.

3) Almanak Laemert. Rio de Janeiro, 1860.

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